Eu sinceramente estou com medo das repercussões que este texto possa vir a ter. Todas as resenhas que encontramos por aí deste game são tão absurdamente positivas (muitas vezes ao ponto de perder a noção da realidade), que eu começo a pensar que existe alguma ameaça sobre a imprensa de games do tipo: “quem der nota abaixo de 9,8 vai ser assassinado”. Portanto, o delfonauta já sabe quem procurar se eu aparecer pelado, deitado em sangue de porco e degolado num beco escuro nos próximos dias.
Falando sério, existem apenas duas explicações para nenhuma resenha apontar nenhum dos muitos defeitos presentes em GTA IV: hype elevado ao ponto de fanboyismo (semelhante ao que vemos nos fãs de Metal, que não aceitam críticas às suas bandas preferidas) ou o puro e simples jabá. Veja, por exemplo, a pontuação dada nesta resenha, curiosamente de um dos sites que mais gosto (e que caiu no meu conceito depois desse texto).
Eu, por outro lado, acredito que o consumidor tem direito de saber dos defeitos de um produto para poder fazer uma compra bem planejada. Eu normalmente leio resenhas para saber justamente disso – e, neste caso, isso me foi negado, pois não encontrei nenhuma resenha que correspondesse ao que o game é na realidade. Na verdade, me prometeram o melhor jogo da história, uma experiência inesquecível, diferente de absolutamente tudo e tão absurdamente tremendona que seria mais essencial na minha vida jogar GTA IV do que conhecer o Egito ou a Grécia. E, na boa, não é para tanto, IGN e demais sites de games.
Por causa disso, boa parte deste texto vai falar sobre os defeitos “secretos” do game. Dito isto, quero deixar claro que GTA IV é, sim, um jogo muito legal e que vale a pena ser comprado. Daí a dizer que é o melhor jogo da história, com os melhores gráficos, melhores sons e a melhor jogabilidade, é outra história. O problema é que, para cada coisa que ele faz bem, ele também faz mal alguma outra. Mas vamos por partes.
OBA, MEU GTA CHEGOU! *-*
Admito que nunca fui fã de GTA, porém, o fato de ele ter levado a unânime nota 10 por todos os sites de games que leio, me deixou bem ansioso para conhecê-lo. Por causa disso, resolvi investir 60 dólares do meu rico dinheirinho com essa finalidade. Quando o pacotinho finalmente chegou ao conforto do meu lar, foi um momento mágico, pois estava muito ansioso.
Quando vi a caixinha, com o título em relevo, a primeira impressão foi extremamente positiva. Rasguei o lacre, abri a dita-cuja e fui surpreendido com mais coisas legais: um vale de um mês de Xbox Live (que fiquei com medo de usar e perder o tempo que ainda tenho na conta – vai saber), um mapa turístico de Liberty City (bem semelhante àqueles que você pega em hotéis) e um livrinho com as atrações que a cidade oferece.
Legalzudo, não? Mas… mas… cadê o manual? O manual seria o livrinho citado acima. O problema é que ele não serve como manual. Na verdade, ele não tem absolutamente nada disso, além de uma página com os comandos. Ok, o jogo tem um tutorial eficiente e bastante longo (você ainda estará aprendendo coisas mesmo depois de umas cinco horas) no seu single player, mas seria bom algo que explicasse como se joga cada uma das formas de multiplayer. Na ausência disso, você precisa descobrir na raça. E ainda assim, manual é sempre útil. Não vejo porque não poderia vir com o livrinho turístico e com as instruções tradicionais. Uma coisa não exclui a outra.
COLOCANDO NO CONSOLE
Assim que coloquei o jogo, admito que também me decepcionei pelo fato de que o dito-cujo começa sozinho. Sinceramente, não acho isso uma boa idéia desde a primeira vez que vi algo assim, no X-Men 2 de Mega Drive. Principalmente porque isso não permite que você adeqüe o jogo ao seu gosto antes de começar, configurando os comandos, ligando ou desligando as legendas, etc. Nesse caso, eu assisti à cutscene introdutória e não entendi quase nada, graças aos pesados sotaques dos personagens. Ou seja, quando o jogo efetivamente começou, tive que mexer nas opções para ligar as legendas e recomeçar tudo, o que não foi legal e quebrou bastante o clima de empolgação. De qualquer forma, sei que tem gente que gosta disso.
Infelizmente, essa opção ficou ainda pior para mim quando coloquei o jogo pela segunda vez. Acontece que você é obrigado a assistir a todas as telas introdutórias antes de começar a carregar seu save. Do momento que você coloca o disco até o início da brincadeira, você SEMPRE vai ser obrigado a esperar uns quatro minutos. E isso é um saco. Aliás, ele sempre carrega o mais recente, ou seja, se você quiser recuperar um save mais antigo, terá que esperar carregar o novo, para depois dar outro load, aumentando ainda mais a espera.
GRÁFICOS
Aqui é, sinceramente, o ponto em que as resenhas mainstream me deixaram mais injuriado. No supralinkado texto do IGN, o GTA recebeu um 10 no quesito gráficos. O único outro jogo que eu conheço que ganhou essa nota foi, merecidamente, Gears of War. Assassin’s Creed, por exemplo, talvez o segundo jogo mais bonito de 360 (atrás apenas do Gears), faturou um reles 8,5.
Aí o caro delfonauta que me desculpe, mas eu não admito que os gráficos deste GTA recebam a mesma nota de Gears, nem algo superior ao Assassin’s Creed. Não é fanboyismo, nem nada do tipo. Mas gráficos talvez sejam o ponto menos subjetivo de uma análise de games. Quando é bom, todo mundo concorda. E é praticamente unânime que os de Gears são os melhores de 360 até o momento. Dizer que os de GTA IV são melhores que os de Assassin’s Creed só pode ser jabá ou uma clara falta do que eu gosto de chamar de imparcialidade parcial (ou seja, você dar sua opinião independente de fatores externos, como preferências, simpatias, etc). Em outras palavras, o cara estava tão empolgado com o novo Grand Theft Auto que não avaliou os gráficos de forma objetiva, mais ou menos como fazem os fãs de Metal que gostam dos shows de 70 minutos das bandas finlandesas.
Ok, Liberty City realmente tem muitos detalhes e, sobretudo quando chove à noite, o visual fica impressionantemente bonito. Ainda assim, está muito longe de merecer estar entre os mais belos do console. Claro, tem muito mais conteúdo (leia “cenários”) aqui do que no Gears, mas uma nota para os gráficos não deve analisar a quantidade de conteúdo, mas a qualidade dele. Vendo os vídeos disponíveis na internet, fica bem claro que os gráficos não estão assim tão diferentes do San Andreas (sobretudo se comparado ao SA de PC). E pô, tem uma geração de consoles entre um e outro. Deveria ter muito mais diferença do que realmente tem.
SOM
Aqui não tem muito o que reclamar. A mixagem é ótima e dá realmente noção de espaço se você tiver seu console ligado em um home-theater. Só existe uma única música composta para o jogo. Todas as outras são faixas licenciadas de artistas famosos. Falamos mais sobre as rádios em breve.
A qualidade da dublagem também é ótima e, apesar de quase todos os personagens terem sotaques (o que, particularmente, não me agrada muito), a interpretação e a escolha das vozes está perfeita.
JOGABILIDADE
Quem conhece o GTA sabe que ele mistura direção de carros com jogos de tiro. Aqui, um novo aspecto foi acrescentado: o de coberturas à Gears of War. Só que a jogabilidade sempre foi um problema na série. De nada adianta você tentar colocar tudo que existe nos games se não vai fazer nada direito.
Se o jogo vai ter fases de direção e de corrida, eu, como consumidor, exijo que seja tão bom quanto Need For Speed. Se vai ter tiroteio, não tem desculpa, tem que estar pau a pau com Max Payne. Finalmente, se inventaram de copiar o sistema de cobertura do Gears, deveria ser no mínimo tão fuderoso quanto ele. Esse é o problema. Não é. Nada disso. Nem próximo.
Verdade seja dita, a coisa está um pouco melhor do que nos jogos anteriores. Por exemplo, agora você tem a possibilidade de utilizar uma mira automática. Você segura um botão e seu protagonista já mira no fulano. Daí é só atirar. Ou, se preferir, pode fazer pequenos ajustes para acertar o sujeito na cabeça, na perna ou onde quiser. É bem legal.
Um grande defeito desse esquema é que os seus inimigos são muito pequenos e normalmente você atira neles vendo apenas a mira automática, que cobre completamente o lugar onde eles estão. E o efeito disso é que acaba acertando apenas o lugar em que estão se escondendo, pois não tem a menor condição de descobrir quando realmente saem da “toca” e estão vulneráveis. Eventualmente, o jogo também pode se recusar a deixar você mudar de alvo, e isso vai causar algumas mortes e muita frustração.
O sistema de cobertura é igualmente uma boa idéia, mas foi muito mal implementado. Seu bichinho se mexe de forma desnecessariamente devagar quando está escondido na parede. Ao contrário de Gears, ele não consegue se mexer de forma alguma quando está mirando ou recarregando a arma. E isso enche o saco. E por que o Sniper só pode ser usado como uma arma normal, sem lente, quando o jogador está atrás de uma cobertura?
Por fim, os carrinhos. Quando você está simplesmente dirigindo até seu destino, até que funciona bem. Porém, nas corridas e perseguições, você vai querer quebrar o controle e, quem sabe, pagar um curso de física para a turminha da Rockstar. Isso porque a facilidade com que os carros capotam é absurda. Se a calçada for um pouquinho inclinada e você esbarrar nela, crau, o carro sai voando e cai de ponta cabeça. E se isso acontecer numa missão de corrida ou de perseguição, você falha e tem que começar tudo de novo. Mas que diabos? Que eu saiba, veículos não são feitos de isopor, nem de material mais leve que o ar.
Outro problema é a câmera, que simplesmente não tem uma posição agradável, todas são muito próximas do chão, longe do ideal para um game de corrida. E eu sempre quis saber porque a turminha que programa os GTA acha que o capô do carro é a primeira coisa a sair voando. Isso existe desde sempre na série e eu nunca vi algo parecido na vida real.
Pior, em várias missões, você não só tem que perseguir alguém, como tem também que atirar no dito-cujo. Mas dirigir enquanto atira é quase impossível. Os comandos são muito desajeitados e a maior parte dos carros é completamente inapropriado para correr. Quando você tem que fazer isso ao mesmo tempo que tem que atirar e ficar constantemente levantando a câmera para conseguir enxergar o que está na frente do carro, sem dúvida vai conseguir entender como a sua avó se sente quando tenta jogar Super Mario – ou seja, apertando botõezinhos sem nenhuma conexão com o que acontece na tela.
A HISTÓRIA
Digna de Oscar. Maravilhosa. Personagens de profundidade extrema. A melhor desde Bioshock. Tudo isso, é claro, é (ja)balela. A história do GTA IV em nada se difere dos anteriores.
Saca só: você é Niko Bellic, um imigrante da Europa Oriental que vai para os EUA em busca de vingança por algo que lhe aconteceu no passado. Ele logo se envolve com o crime organizado e vira um matador de aluguel, que vai ganhando notoriedade, respeito e grana enquanto conquista o submundo de Liberty City. Ou seja, é praticamente igual às outras, não é?
Além disso, cada um dos personagens com quem você vai se envolver tem a sua própria história e são praticamente desconexas entre elas. Muitos daqueles que te mandam em algumas missões estão ali apenas para apresentar você para alguém mais alto na hierarquia do crime.
Isso tudo, é claro, não quer dizer que ela é ruim. É bem básica, mas as cutscenes são legais e os diálogos são muito bem escritos e muito bem interpretados. Os personagens também são bem construídos e não dá para negar que GTA IV é um jogo muito engraçado, em especial por causa de alguns dos amigos do protagonista, como o Brucie (um sujeito que me lembrou do nosso amigo Júlio Rogas e cuja maior ambição na vida é mostrar para todos que é um macho alfa) e o Jacob (um jamaicano maconheiro que fica engraçado por não dar para entender nada do que fala. Ou você entenderia algo tipo: “Bumbaclot, ma g’wan, ma bredah!”? Eu não).
Eu gostei da história e me diverti bastante com ela, mas não espere um novo Bioshock ou personagens com maior profundidade do que o que vemos em um Corra que a Polícia Vem Aí. E, sim, a narrativa beira o besteirol em vários momentos.
O JOGO EM SI
Finalmente chegamos à parte que realmente importa. E o que temos aqui é exatamente o esperado: GTA. Ou seja, a rotina do jogo ainda é aquela coisa de “saia da safehouse, roube um carro, dirija até uma das missões, assista à cutscene, vá até o local e faça o necessário”. A rotina básica de uma missão também não mudou muito daquele “roube um carro, vá até o local, mate uns caboclos, persiga os caboclos sobreviventes de carro, extermine os desgraçados, fuja da polícia”.
Uma adição que faz TODA a diferença, pelo menos para mim, é que agora você pode pagar um táxi e ser imediatamente transportado para o seu destino. Isso acelera muito o ritmo do jogo, em especial quando você não está com saco de ficar dirigindo pela cidade. O chato é que em muitos momentos, os táxis de Liberty City parecem ter desaparecido totalmente, enquanto em outros, você encontra um engarrafamento formado apenas de táxis. Se desse para escolher seu destino no mapa e ser transportado direto, mesmo que fosse pago, seria ideal.
Outra novidade que pode parecer mais legal do que realmente é, é que você tem a possibilidade de tentar de novo após falhar uma missão. Isso torna muito menos frustrante quando você falha em uma delas, o problema é que foi muito mal implantado.
Lembra daquela porcaria chamada Simpsons: Hit and Run, também conhecido como “Simpsons brincando de GTA”? Pois então. É uma porcaria, mas fez isso de forma invejável. Você morria ou falhava por qualquer motivo e aparecia na tela um retry: yes/no. Se você escolhesse tentar de novo, era transportado para o início da fase e pronto.
Aqui não. Se você falha por ser capturado por policiais, por exemplo, e escolhe retry, você vai recomeçar a fase do início, sem armas, sem armadura e com menos dinheiro. E mesmo que você falhe por outros motivos, não recupera coisas como munição e armadura, o que é um saco. Muitas vezes, é mais simples, mais rápido e barato dar um load do que comprar tudo de novo. O retry deveria recuperar o estado em que você estava no início. Além disso, considerando que todas as missões têm várias partes (dirija até lá, mate os caboclos, fuja da polícia, etc), algumas se tornam bem longas (chegam a quase uma hora) e é bem chato que não existam checkpoints. Morreu, tem que começar desde o mais absoluto início, quando cada um desses “atos” poderia ser usado facilmente como um checkpoint.
Existem muitas fases realmente legais. Com certeza, o assalto ao banco e a entrevista de emprego estão entre as mais marcantes, mas tem vários outros grandes momentos. Tem uma em que você persegue uns motoqueiros no metrô, enquanto desvia dos trens com a sua moto à Judas Priest. Na primeira vez que joguei nela, tive a sorte de estar ouvindo a rádio Rock e de estar tocando Heaven and Hell, do Black Sabbath. Sinceramente, não consegui conter a empolgação e acabei soltando um daqueles gritinhos de macho, tipo “ee-há” ou algo assim. 🙂
Além das missões, você tem um monte de coisas para fazer. Pode cadastrar seu perfil num site de namoros e se encontrar com algumas tetéias, pode ficar assistindo TV na sua casa, receber uma lapdance ou assistir a alguns shows de comédia com Katt Williams (o mais engraçado) ou Ricky Gervais (a voz desse cara me dá tédio). Tem também uma internet com vários sites secretos. Agora convenhamos, quem realmente vai ficar assistindo TV ou acessando a internet no GTA? E se já é chato ter que ficar apagando os spams da vida real, por que incluir isso em um jogo de videogame?
O RÁDIO
Uma das melhores coisas do jogo. Existem estações de vários estilos. A maioria é de Rap, mas tem também uma rádio de música latina, uma de canções européias (que variam entre coisas típicas e Raps e Rocks normais) e, é claro, a rádio Rock. Nessa, temos artistas do porte de Queen, Black Sabbath, The Who, Black Crowes e Smashing Pumpkins. E o mais curioso: o DJ dela é Iggy Pop em pessoa, que diz em alguns momentos que está morando em Liberty City e faz algumas referências ao dia a dia na cidade e até ao clima do momento (por exemplo: esta tarde está chuvosa).
Mas tem mais. Tem também uma excelente rádio Jazz, com gente do calibre de Miles Davis e Coltrane. Se você gosta de Reggae, tem uma quase exclusiva do Bob Marley. Uma que gostei bastante se chama Fusion e toca faixas bem semelhantes àquelas que conhecemos de um dos melhores jogos da história, Toe Jam & Earl (esse sim, ganha do GTA em absolutamente tudo, inclusive gráficos, mesmo depois de quase duas décadas do seu lançamento).
Contudo, a melhor de todas é a WKTT. Essa é uma rádio que traz apenas programas falados, todos com o viés político dos republicanos. Ou seja, tome comentários machistas e xenofóbicos. O troço é tão absurdamente engraçado que muitas vezes eu ficava com pena de sair do carro quando chegava ao meu destino. Tem outras nessa linha, só com locução (inclusive uma democrata), mas essa é, sem sombra de dúvida, a melhor. E é uma das coisas mais engraçadas que já (ou)vi em um game.
O ONLINE
Outro ponto de divergência entre a minha opinião e o consenso midiático. Falaram tão bem do multiplayer de GTA IV que eu esperava um novo Call of Duty 4. O que encontrei, no final das contas, foi algo completamente tacked on (expressão que pode ser traduzida como “enfiado na última hora, sem cuidado ou planejamento”).
Sim, existem muitas formas de jogo diferentes. Mas, cá entre nós, por que alguém jogaria online as corridas do GTA se pode fazê-lo de forma muito melhor em um Need For Speed ou qualquer jogo de corrida decente? O mesmo pode ser dito para as variações de deathmatch/team deathmatch. Por que fazer isso no GTA se em jogos como o próprio Call of Duty tem a mesma coisa funcionando bem melhor?
No final das contas, sobram apenas algumas modalidades mais interessantes, como uma em que os times ficam cumprindo missões específicas (roube tal carro, proteja tal pessoa, etc), ou algumas fases extras e cooperativas. O problema é que mesmo essas acabam sendo pioradas e perdendo a graça por três motivos específicos, dois deles relacionados ao mesmo problema – o host é selecionado automaticamente, você não tem a opção de “criar” um jogo. E só o host pode escolher coisas essenciais para a diversão. Confira abaixo os problemas:
1 – Existem várias opções de campo de batalha. Por exemplo, você pode jogar em espaços limitados ou na cidade inteira. Todos os hosts com quem eu joguei, contudo, escolheram o cenário inteiro. O resultado: você fica dez a quinze minutos tentando encontrar alguém, daí você morre (ou mata) e depois tem que ficar mais um tempão para achar outro fulano. Isso seria resolvido com uma opção de voto, ao invés de concentrar todo o poder nas mãos de um único fulano pentelho.
2 – É possível desabilitar a mira automática. E todos os hosts com quem eu joguei desabilitaram. O problema é que a jogabilidade é ruim demais para ser possível jogar GTA como um shooter normal, onde o jogador só pode mirar livremente. A mira automática é essencial neste jogo e, se não fosse desabilitada, os viciados ainda teriam possibilidade de mirar na raça, já que os controles permitem essa liberdade de escolha. Desabilitando a mira automática, os viciados ganham uma vantagem absurda sobre os jogadores normais, o que desequilibra ainda mais a partida. Novamente, isso seria resolvido com uma opção de voto, ao invés de concentrar todo o poder nas mãos de um único fulano pentelho.
3 – Esse é o pior. Existe uma opção para você kickar os outros jogadores. Se a maioria escolher kickar você, bau bau. E o sistema não deixa nem você dar avaliação negativa para eles, pois não chegou a jogar (¬¬). O problema disso é que parece que tem gente que abre os jogos só para ficar kickando todo mundo. Veja bem, não é o caso de eu entrar cantando na sala ou fazendo algo igualmente chato, merecedor de expulsão. Eu mal entrava e era expulso, o que dá a entender que eles ficam chutando todo mundo. Isso ficou ainda mais grave quando fui tentar as missões cooperativas. Devo ter demorado mais de meia hora só para encontrar uma sala com pessoas que quisessem jogar. Extremamente irritante. E quem foi o imbecil que decidiu colocar essa opção, afinal? Nenhum outro jogo tem isso e todos funcionam bem melhor online. Se os caras querem jogar apenas com amigos, beleza, mas que criem então um jogo do tipo invite only. E se o GTA não permite essa opção, é mais uma clara prova de quão não-terminado ele é.
Por causa desses motivos, sinceramente não tenho a menor vontade de jogar o multiplayer do GTA IV de novo. Para mim, isso acabou sendo como aqueles extras de DVD que você assiste uma vez e depois nunca mais. É uma pena, pois podia ser bem melhor.
OS BUGS
Aqui é a pior parte. Tem tantos problemas técnicos em GTA IV que o jogo parece não ter sido terminado. Saca a lista com ALGUMAS das coisas que aconteceram comigo:
– Numa das últimas fases, e a mais difícil do jogo (A Dish Served Cold), quase no final, eu fui pegar cobertura em uma parede. Não é que o bichinho atravessou a dita-cuja e ficou preso ali? Em extrema frustração, eu fui obrigado a recarregar meu save mais recente e jogar tudo de novo. Isso me custou quase uma hora de jogo, pois a fase em questão não apenas é a mais difícil, como é também a mais longa.
– Na primeira fase de corrida, você ganha de presente um dos melhores veículos do jogo. Na frente de todas as suas safehouses, tem um espaço para salvar alguns carros. Eu salvei meu corredor lá e, depois de algum tempo, ele sumiu. Por que oferecer algo que não funciona? Era melhor que nem tivesse.
– Ainda nesse mesmo esquema, o celular tem uma opção para você segurar as ligações de história para poder ficar explorando a cidade tranqüilamente. Eu desliguei o dito-cujo para brincar um pouco de polícia. Daí do nada, recebo uma ligação que iniciava a missão seguinte. E isso não foi um bug que só aconteceu uma vez, esse “desligamento” dura apenas alguns poucos minutos, mas não tem absolutamente nada que indique que o celular foi religado. E nunca fica desligado pelo mesmo tempo, é completamente aleatório. E, se a idéia é deixar o jogador livre para explorar, por que colocar um limite de tempo para o celular ficar desligado? E um limite não especificado, ainda por cima? Faça-me o favor!
– Algumas das tetéias com quem você vai sair têm habilidades especiais. Uma delas recupera a sua energia caso você ligue para ela. Só que eu só vi isso funcionar uma vez. Ok, todas essas habilidades podem ser usadas só uma vez por dia, o que é normal. Mas eu ligava para ela, falava que estava machucado, ela falava que ia me curar e nada acontecia. É um bug feio demais para ter sido aprovado. E já vi vários fóruns com pessoas reclamando desse mesmo problema. Aparentemente, não programaram essa guria direito e colocaram um jogo quebrado nas lojas.
– Tem outro personagem que, caso você decida deixá-lo vivo, vai lhe oferecer a habilidade de mandar a polícia sair da sua cola. Só que todas as vezes que eu liguei para o fulano solicitando esse benefício, o celular dava ocupado. Assim não dá, né? Era melhor que nem tivesse a habilidade então.
– Uma atualizada que eu quase esqueci: a draw distance é ridiculamente próxima. É comum você entrar na sua safehouse e ela estar vazia. Assim, você é obrigado a parar alguns segundos até poder subir a escada. Isso acontece em quase todo ambiente interno do jogo.
CONCLUSÃO
Sim, eu sei que parece ruim. Mas a verdade é que, apesar desses defeitos, GTA IV ainda é um jogo deveras divertido e sem dúvida nenhuma vale a compra (que você pode fazer clicando aqui e ainda ganhar um chaveiro exclusivo). Decidi focar no lado ruim das coisas simplesmente pelo fato de que ninguém mais teve coragem de fazer isso – e eu acredito que você tem o direito de saber dessas coisas antes de gastar seu rico dinheirinho em um jogo. A pena é que, se fosse feito por uma equipe mais profissional, que não cometesse erros tão absurdos, GTA IV realmente poderia ser um dos melhores jogos da história. Da forma que está, contudo, não é nem um dos melhores do console.